quarta-feira, 4 de março de 2009

" O fator Deus"



A violência mundial fatalmente já se tornou situação corriqueira. Assaltos não mais causam tanto espanto. Assassinatos, terrorismos, seqüestros assustam, mas infelizmente já são esperados. A população, por sua vez, culpa as autoridades governamentais e enquanto nada é resolvido procura curvar-se e adaptar-se à situação.

Tudo isso já é muito discutido e José Saramago em seu texto “O fator Deus”, publicado em 19/09/2001 no jornal Folha de São Paulo, nos abre os olhos para um outro tipo de violência, que em suas palavras existiu e vem existindo há muito tempo: A violência praticada em nome de Deus, ou melhor, as mortes, as terríveis e absurdas mortes praticadas em Seu nome.
Com exemplos como o de oficiais britânicos assassinando rebeldes na Índia, das bombas atômicas que devastaram as cidades de Hiroshima e Nagasaki e do atentado praticado por terroristas islâmicos contra os Estados Unidos, Saramago coloca uma justificativa para tanto, é o “fator Deus”. O autor fala da rivalidade entre as religiões e de como elas nunca serviram para a harmonia entre os homens, mas sim, para a prática de horror, sofrimento e monstruosas violências, sendo tudo isso permitido e justificado em nome de Deus. Ele culpa e não perdoa a nenhuma das religiões, e baseado no ateísmo defende o direito a heresia. Fala de Deus como um ser que não existiu, não existe e nunca existirá, a não ser no cérebro humano, mas que mesmo assim tornou-se fator de rivalidades que são definitivamente mais de cunho político do que religioso. “O fator Deus”, esse sim existe para o autor, ele é a base, a desculpa e a justificativa para tamanha intolerância.

Muito do que Saramago narra deve ser levado em consideração, e se pararmos para pensar, veremos que “o fator Deus” infelizmente existe, sendo um absurdo toda essa violência praticada e justificada em nome de Deus.

Acredito em um Deus existente e bom que está em todos os lugares e não somente em nossos cérebros como diz Saramago, que não deve de forma alguma ser citado como vetor de todas essas barbáries. Acredito que seguir a Deus não nos traga coisas ruins, mas grandes sentimentos e virtudes. O que provoca tanta rivalidade entre as religiões é a religiosidade. A religiosidade cria a intolerância.

Concordo com o autor quando diz que as religiões ainda fecham os olhos para o ocorrido, fixando-se somente em seus interesses. Entretanto, me recordo do Papa João Paulo II, saudoso líder católico que pregava a harmonia entre as religiões, e que já havia percebido que hoje, para que prevaleça a paz entre os povos, devemos ser mais Deus e menos religião.
Link da reportagem. Vale à pena ler!!!

Minha torcida é pela fé


Uma matéria que saiu na Revista Veja de 04/02/2009 me chamou muito a atenção. Referia-se a força da música religiosa - católica e evangélica no mercado fonográfico da atualidade.

A reportagem me levou a pensar e interpretar tal informação por duas vertentes. A primeira é lamentável: Boa parte da indústria da informação tornou-se sensacionalista e pode por vezes nos ser traiçoeira.

De inicio esperava um reconhecimento por parte da reportagem sobre o assunto em questão e não uma maré de críticas aos cantores religiosos, feitas hora de forma irônica, hora camuflada. O principal alvo, sem dúvidas, foi o hoje conhecido e reconhecido Pe. Fábio de Melo, descrito por eles como o “maior fenômeno musical surgido no Brasil ultimamente”.

Comentários tendenciosos foram feitos em relação a sua pessoa: Foi citada a sua beleza física, a marca de seu relógio de pulso, o modelo de suas calças jeans, truques de beleza (ditos por eles como utilizados pelo padre), a imagem de “bonitão” que prega e a possível histeria que tudo isso causa nas mulheres. No mais, como uma forma de “justiça seja feita” ou “apesar de tudo” foi momentaneamente reconhecido como estudioso e religioso que é, com bons sermões e bons livros categorizados como da área de auto-ajuda.

Tendei entender aonde queriam chegar, o que realmente estava sendo levado em conta: A beleza, logicamente vistosa do padre e a forma como cuida de seu a asseio pessoal ou o que de fato vem ocorrendo com os consumidores e com o mercado fonográfico que faz com que o venda de CDs religiosos cresça e não encontre a crise?

Entendi então, que o interesse maior está voltado na venda do peixe. Não importa como, quanto mais sensacionalista mais atenção chama e maiores serão as vendas. E Abro parênteses para uma questão: Será que verdadeiramente podemos acreditar, por nossa atenção e inserir em nossa bagagem de conhecimento tudo o que lemos por aí? Acho que as evidências mostram que não. E esse problema não se insere somente em um veículo de comunicação como o aqui citado, mas em vário outros por nós conhecidos.

Mas como disse, vejo tal informação por duas vertentes. A segunda é: A procura pela música religiosa mostra como as pessoas podem estar buscando se interiorizar mais. Vivemos em momentos de crise financeira, trabalhos exaustantes e na busca incessante de estudo e conhecimento como forma de sobrevivência nessa selva chamada mercado de trabalho. A violência virou monotonia, a falta de dinheiro também, as famílias passam por crises e o que parece é que queremos rezar mais, apelar para um ser superior que nos guarde e nos proteja.

Talvez possam surgir outras explicações, como a que justificaria que esses CDs ainda são muito vendidos porque a pirataria ainda não os adotou ou que esse aumento de consumidores religiosos é modismo e que logo passa. Prefiro acreditar que não. Coloco minha esperança no aumento da fé em nosso país.