A violência mundial fatalmente já se tornou situação corriqueira. Assaltos não mais causam tanto espanto. Assassinatos, terrorismos, seqüestros assustam, mas infelizmente já são esperados. A população, por sua vez, culpa as autoridades governamentais e enquanto nada é resolvido procura curvar-se e adaptar-se à situação.
Tudo isso já é muito discutido e José Saramago em seu texto “O fator Deus”, publicado em 19/09/2001 no jornal Folha de São Paulo, nos abre os olhos para um outro tipo de violência, que em suas palavras existiu e vem existindo há muito tempo: A violência praticada em nome de Deus, ou melhor, as mortes, as terríveis e absurdas mortes praticadas em Seu nome.
Com exemplos como o de oficiais britânicos assassinando rebeldes na Índia, das bombas atômicas que devastaram as cidades de Hiroshima e Nagasaki e do atentado praticado por terroristas islâmicos contra os Estados Unidos, Saramago coloca uma justificativa para tanto, é o “fator Deus”. O autor fala da rivalidade entre as religiões e de como elas nunca serviram para a harmonia entre os homens, mas sim, para a prática de horror, sofrimento e monstruosas violências, sendo tudo isso permitido e justificado em nome de Deus. Ele culpa e não perdoa a nenhuma das religiões, e baseado no ateísmo defende o direito a heresia. Fala de Deus como um ser que não existiu, não existe e nunca existirá, a não ser no cérebro humano, mas que mesmo assim tornou-se fator de rivalidades que são definitivamente mais de cunho político do que religioso. “O fator Deus”, esse sim existe para o autor, ele é a base, a desculpa e a justificativa para tamanha intolerância.
Muito do que Saramago narra deve ser levado em consideração, e se pararmos para pensar, veremos que “o fator Deus” infelizmente existe, sendo um absurdo toda essa violência praticada e justificada em nome de Deus.
Acredito em um Deus existente e bom que está em todos os lugares e não somente em nossos cérebros como diz Saramago, que não deve de forma alguma ser citado como vetor de todas essas barbáries. Acredito que seguir a Deus não nos traga coisas ruins, mas grandes sentimentos e virtudes. O que provoca tanta rivalidade entre as religiões é a religiosidade. A religiosidade cria a intolerância.
Concordo com o autor quando diz que as religiões ainda fecham os olhos para o ocorrido, fixando-se somente em seus interesses. Entretanto, me recordo do Papa João Paulo II, saudoso líder católico que pregava a harmonia entre as religiões, e que já havia percebido que hoje, para que prevaleça a paz entre os povos, devemos ser mais Deus e menos religião.
Link da reportagem. Vale à pena ler!!!